quinta-feira, 5 de maio de 2011

O Ensino Superior Agrícola no Brasil


Guy Capdeville
Universidade Federal de Viçosa (UFV)
Historia o surgimento e a evolução do ensino superior agrícola no
Brasil. Em 15 de fevereiro de 1877, instalava-se, no Brasil, o primeiro curso
superior da área de ciências agrárias
Escola Agrícola da Bahia. Dessa data até 1910
regulamentação oficial desse tipo de ensino
cursos de Agronomia. Embora os estatutos da Imperial Escola Agrícola da Bahia
(1875) previssem, no seu Art. 5
superiores de Engenharia Agricola, Silvicultura e Veterinária, o primeiro curso
de Medicina Veterinária só foi inaugurado em 1913, no Rio de Janeiro. Em 1960,
criou-se o primeiro curso de Engenharia Florestal (Viçosa-MG); em 1966, o
primeiro de Zootecnia (Uruguaiana-RS) e, em 1973, o primeiro de Engenharia
Agrícola (Pelotas-RS). Em janeiro de 1990, eram 72 os cursos de Agronomia; os
de Veterinária, 43; os de Engenharia Florestal, 14; os de Zootecnia, 16; e os de
Engenharia Agrícola, 8. Em março de 1961, foi inaugurado, na então
Universidade Rural do Estado de Minas Gerais, hoje Universidade Federal de
Viçosa, o primeiro curso de pós-graduação, no Brasil, no modelo norteamericano
do
havia 108 cursos de mestrado e 28 de doutorado em Ciências Agrárias, no Brasil.
Acredita-se que a formação de profissionais agrícolas de nível superior é uma
das áreas bem sucedidas da educação brasileira.
o Curso de Agronomia da Imperialano em que se faz a primeirafuncionaram, no Brasil, oito0, além do curso de Agronomia, os cursosMaster of Science ou Magister Scientia?. Em janeiro de 1990,
Primórdios
As primeiras tentativas de se instalar o ensino superior agrícola
no Brasil enfrentaram a indiferença das elites e o desinteresse da
população. A agricultura nacional, baseada no latifúndio, na monocultura
de exportação, no trabalho escravo, na
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abundância de terras novas e férteis e no descaso pelo manejo e
conservação do solo, exigia muito pouca diversificação e quase nenhuma
qualificação da força de trabalho. Segue-se daí que nenhum serviço a
escola tinha a lhe prestar, no que se refere à formação de mão-de-obra.
Quanto à reprodução das relações de dominação e da ideologia
dominante, outras agências dela se encarregavam, satisfatoriamente
(Freitag, 1986, p.45 e 48).
Não havia, pois, razões para o governo criar escolas agrícolas,
nem mesmo outra escola qualquer, no campo. A agricultura, praticada por
escravos e ex-escravos, não era exercida "profissionalmente". O
campesinato surgiu muito tarde, no Brasil. O trabalho assalariado na
agricultura só começou a ser realmente praticado após a chegada dos
imigrantes europeus, que vieram substituir o trabalho escravo. Os
imigrantes, de sua parte, também não precisavam de mais educação do
que a que já possuíam, para o desempenho das atividades que lhes eram
confiadas. A atividade agrícola era, deste modo, considerada um ofício
para o qual não se precisa de treinamento algum. Qualquer um poderia
exercê-lo; daí seu desprestígio. Esse ofício não envolvia perícia técnica
que precisasse ser aprendida, e é justamente por isso que qualquer um
poderia exercê-lo. Para que estudá-lo, então?
Outras, portanto, foram as razões que levaram, primeiramente,
Dom João e, depois, os outros que seguiram seu exemplo a se
preocuparem com "escolas de agricultura"; provavelmente a inspiração do
Príncipe Regente veio dos ideais iluministas em que fora educado,
combinados com a necessidade bem prática e imediata de adaptar o país à
sua nova condição de sede da Corte Portuguesa.
Entretanto, nem mesmo o empenho de Dom João e, posteriormente,
o daqueles que o imitaram conseguiram vencer a inércia da
desmotivação e do desinteresse por este tipo de estudo. Quando, em 1859,
se propôs a fundação da Escola Superior Agrícola da Bahia, destinada à
formação de "agrônomos, engenheiros agrícolas, silvicultores e
veterinários", deu-se o mesmo fenômeno. Todos aceitavam a importância
e a oportunidade da idéia de se criar uma escola agrícola superior, não
porém com o entusiasmo
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suficiente para colocá-la em prática. A escola da Bahia levou 17 anos para
passar de ideal a realidade e, quando o fez, não foi sem tropeços. A
primeira turma de formados, em 1880, foi de dez alunos, mas nos cinco
anos seguintes a média de formados foi de 4,5 por ano. Ao apagar das
luzes do século XIX, a matrícula caiu praticamente para zero e, no início
do século XX (1902), a escola foi fechada.
A situação da segunda escola superior agrícola, a de Pelotas, no
Rio Grande do Sul, não foi mais animadora. Nos seus primeiros 20 anos
de funcionamento, a média de formados foi de apenas um por ano (Tabela
1). Para aumentar o número de matrículas, sugeria-se recrutar os alunos
nos "estabelecimentos pios". O governo, por outro lado, só após muito
relutar, concorda em aprovar os regulamentos dessas escolas, mas se
recusa sempre a lhes conceder recursos, que alega não possuir, o que é
verdade, pois suas opções de gastos são sempre outras.

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